I
(Café & lenda)
Dia de sol em Buenos Aires.
Uma típica turista passeia com sua mochila, sua máquina fotográfica, casaco amarrado na cintura, cabelos mal presos com uma piranha, olhando tudo, registrando tudo. A cada nova cidade, um novo relatório de detalhes arquitetônicos. Um novo retrato do povo e seus hábitos. Um novo festival de cores colecionadas em fotos.
Numa praça com bancos de pedra o telefone celular tocou. Ela sentou-se, atendeu e conversou longamente, como se tivesse tempo. Pombos na praça. A luz do sol cortando a sombra das árvores. Uma igreja imponente ao fundo. Pessoas passando com pressa, outras com a curiosidade dos turistas.
No bistrô da esquina, um homem observava curioso.
Ela terminou sua ligação e foi até o Bistrô tomar um café.
Nota da autora: claro, café! Uma história minha não é uma história minha se ninguém tomar um café.
Assim que sentou-se à mesa, o homem se aproximou. Jeans, tênis, t-shirt, mochila, cabelo curto bagunçado e levemente grisalho, óculos escuros, barba por fazer. Típico turista cool.
- Hola. Pardon...err...permisso.
Ela riu da dificuldade dele e tentou salvá-lo. Pensou "Com esse cabelo, deve ser francês".
- Est que tu parle français?
- Non...ãn...spanish? er...
- English.
- Oh thank god! I knew you were smart!
Ela sorriu seu sorriso aberto, esquecendo de se preservar, uma vez que viajava sozinha. Mas lembrando todas as suas experiências, eu pergunto: quando foi que ela se preservou?
Continuaram em inglês.
- Então. Agora que já sabemos que eu sou inteligente e você nem tanto, já pode falar.
Ele sorriu sem graça, meio vencido, mas ainda com seu ar de galã portenho.
- Desculpa. Eu só fiquei curioso para saber que língua estranha era aquela que você falava no telefone.
"Hm... Cantadinha pobre."
- Português.
- Sério? Você é de onde? Portugal?
- Brasil.
- Ta explicado...
"Ai, lá vem outra cantadinha pobre: toda brasileira é bonita, bla bla bla".
- Toda brasileira é bonita.
"Ah! Jesus me leva". Ela sorriu sem muita vontade, agradeceu o elogio, pediu seu café. O rosto dele lembrava alguém que ela não conseguia saber quem era. O olhar de incômodo e curiosidade acabou denunciando que mesmo com a péssima tentativa de aproximação, talvez ele tivesse mais uma chance.
- Posso tentar de novo?
- Como assim?
- Voltar pra mesa, olhar pra você, começar outra vez?
"Hm...ele não é de todo idiota..."
- Claro. Vai lá...Eu dirijo você.
Ele andou até a mesa, olhou para ela de lá.
- Posso ir?
- Tenta ser verdadeiro. Uma coisa mais cinema, e menos novela ok? E não fala demais.
- Ta.
- Ação!
Ele vem andando e olhando fixamente nos olhos dela. "Canastrão". Aproxima-se da mesa. Senta-se.
- Desculpa. Eu preciso sentar aqui. Eu ouvi você falando uma língua que eu não conheço no telefone e tive que olhar. Desculpa mesmo. Mas é que além de achar lindo, VOCÊ é linda. Seu sorriso é impressionante. Então eu pensei: eu vou convidar essa mulher para tomar um café, vou dar um jeito de passar o dia inteiro ao lado dela nem que ela esteja indo se internar num hospital psiquiátrico; vou pedir pra ela fazer desse o melhor dia da minha vida, porque eu tenho certeza que uma mulher com esse sorriso vai ser a melhor coisa que me aconteceu desde que eu fui pra Disney aos 5 anos. Garçom? Mais um expresso, por favor...
Silêncio constrangedor. Ela olhava para ele sem saber o que dizer. "Jogo um troço na testa dele ou me penduro no pescoço?". Ele continuou.
- Então? Soei mais verdadeiro agora?
- Eu disse pra você não falar muito.
- Eu nunca obedeço o diretor. Deixa eu me apresentar? Muito prazer, George.
- George...Porque eu acho que te conheço?
- Meu rosto é comum. Sua vez agora.
- Ah desculpa...Lívia. Meu rosto também é comum.
Ela estendeu a mão.
- Seu rosto é perfeito... - Ele beijou sua mão delicadamente.
"Canastrão irresistível... Meu deus!"
- ...Então... O que você está fazendo aqui?
- Acho que o mesmo que você. Conhecendo Buenos Aires.
- Sozinha?
- E você?
-Sozinho. Tentando ter alguns dias normais, no anonimato, sem perseguição, sem imprensa, sem trabalho. Só um cara normal invisível.
- Por que?
Ela olhou mais uma vez. O rosto começou a se encaixar com as informações, o jeito de falar o corte de cabelo, a barba mal feita, os olhos... Continuou:
- Entendo...
- Entende?
- Claro.
- Então você sabe quem eu sou.
- Não. Eu sei quem você é, mas não o conheço. Então ainda não sei quem você é. Assim como você não sabe quem eu sou. Estou errada?
- Não. Certíssima. E sabe o que eu quero? Eu, Senhor Ninguém que acaba de conhecer a linda Senhora Ninguém num bistrô simpático, quero ser ninguém até me tornar alguém só porque o dia foi bom. Entendeu?
- Ahan. Mas você não imagina que vá deixar de ser Ninguém só porque é alguém "conhecido", né? Ou que vai mesmo passar o dia comigo?
- Não, Dona Lívia Ninguém. Se eu for um lixo de um ninguém, prefiro que você me jogue no Rio De La Plata e não olhe para trás.
- Que ótimo. Então pede mais um café pra mim, Sr. Ninguém, e vamos conversar enquanto eu penso em que ponto do Rio que quero te jogar.
- Uou! Jura? Você vai deixar eu ficar sentado aqui conversando com você?
- Claro. Mas é só esse café e eu vou te jogar no rio. Depois quero passear mais um pouco para tirar mais fotos, ok?
- Ok. Muito gentil...
As horas se passaram numa conversa sem fim, sem que nenhum dos dois percebesse que a tarde já havia roubado aquela manhã de sol e que o passeio de Lívia estava se perdendo minuto a minuto.
Os pombos na praça já estavam cansados de voar ao redor dos turistas. Os turistas já estavam a caminho de outras praças. O sol já não cortava mais a sombra das árvores.
Muitos cafés, algumas tortillas, cigarros e mais cafés. O garçom se aproximou da mesa com o cardápio e perguntou:
- Gostariam do prato do dia?
Os dois se olharam com espanto. Lívia se desesperou:
- Como assim? Almoço? Já? Que horas são? Meu Deus, três horas da tarde... Ah! Perdi o passeio pro Caminito! George...Olha o que você fez...
- Eu, Lívia? Você que nunca para de falar. HAHAHHA! Que tal um táxi até o Caminito e a gente continua a conversa?
- Perfeito. Traz a conta, por favor.
- Hey... Deixa o garçom comigo, ok?
- Hm...a gente brigar em público?
- Só na próxima conta.
Quando o garçom trouxe a conta, trouxe junto um bloquinho.
- Senhor Clooney, será que pode me dar um autógrafo?
Lívia interrompeu:
- Clooney? Te confundiram outra vez, amor. Dá um autógrafo pra ele mesmo assim. Inventa uma assinatura.
Olhando para o garçom:
- Daí você finge que era dele mesmo, né?
- No, gracias.
O garçom recolheu o bloco de cima da mesa mais do que rápido e saiu resmungando.
- Ha! famoso...bah! cópia del carajo!
Os dois saíram do bistrô às gargalhadas em direção ao ponto de táxi.
- Ele ficou muito furioso!
- Cópia del carajo!
- Hahaha! Você me salvou!
- De nada. Sempre que precisar me chama. Então...Caminito ou Porto Madero?
- Você não queria ir ao Caminito?
- Posso ir uma outra vez.
- Podemos?
- Posso. Em Porto Madero a gente pode almoçar. Tem ótimos restaurantes lá. Daí você pode brigar comigo em público, e eu posso te jogar na parte bonita do rio. Uma morte glamourosa. Que tal?
- Perfeito. Um almoço antes de morrer.
O antigo porto transformado numa bela calçada cheia de restaurantes à beira do rio tem o ar romântico do Sena, a modernidade de Barcelona, o clima perfeito para um passeio descompromissado, calmo, regado a risos e conversas. Almoço, vinho, risadas passeios a pé pela beira do rio, ameaças de assassinato a cada cem metros, ele tirando fotos dela, ela fingindo que não queria fotografá-lo, ele começando a olhar para ela diferente, ela fingindo que ainda o achava um tremendo canastrão, tempo passando, tarde caindo.
Um taxi para a Calle Florida. Existe lugar mais brega do que a Calle Florida? Para quem queria ser invisível era o lugar perfeito. Muita gente na rua, milhares de lojas, milhares de turistas,...Todos parecem idênticos na Calle Florida. Em meio à conversa, a vitrine de uma joalheria segurou os olhos de Lívia.
- Nossa... O escaravelho.
- Quem?
- Esse anel de escaravelho.
- É lindo. Que pedra é essa?
- É uma pedra egípcia. Você conhece a história?
- Você não queria ir ao Caminito?
- Posso ir uma outra vez.
- Podemos?
- Posso. Em Porto Madero a gente pode almoçar. Tem ótimos restaurantes lá. Daí você pode brigar comigo em público, e eu posso te jogar na parte bonita do rio. Uma morte glamourosa. Que tal?
- Perfeito. Um almoço antes de morrer.
O antigo porto transformado numa bela calçada cheia de restaurantes à beira do rio tem o ar romântico do Sena, a modernidade de Barcelona, o clima perfeito para um passeio descompromissado, calmo, regado a risos e conversas. Almoço, vinho, risadas passeios a pé pela beira do rio, ameaças de assassinato a cada cem metros, ele tirando fotos dela, ela fingindo que não queria fotografá-lo, ele começando a olhar para ela diferente, ela fingindo que ainda o achava um tremendo canastrão, tempo passando, tarde caindo.
Um taxi para a Calle Florida. Existe lugar mais brega do que a Calle Florida? Para quem queria ser invisível era o lugar perfeito. Muita gente na rua, milhares de lojas, milhares de turistas,...Todos parecem idênticos na Calle Florida. Em meio à conversa, a vitrine de uma joalheria segurou os olhos de Lívia.
- Nossa... O escaravelho.
- Quem?
- Esse anel de escaravelho.
- É lindo. Que pedra é essa?
- É uma pedra egípcia. Você conhece a história?
- Não. Que história?
- Desse besouro azul?
- Não. Me conta.
- No Egito antigo, eles acreditavam que o besouro era um Deus. O Deus da reencarnação. Da ressurreição. Isso porque quando os besouros nascem, a fêmea serve de alimento para os filhotes até que eles possam sair voando e andando. Por isso eles achavam que quando o besouro morre, ele se transforma em vários outros. Então, quando a pessoa morria, eles retiravam o coração e substituíam por um escaravelho dessa pedra, feito do tamanho do coração que foi retirado. Assim, a pessoa viveria para sempre ou reencarnaria logo. Mas o sentido mesmo, era que ela viveria para sempre.
- Que lindo isso.
- Não é?
- Você queria viver pra sempre?
Ela falava enquanto caminhavam a pé pela rua.
- Viver pra sempre é relativo. Você vai viver pra sempre, ou por muito tempo, porque vai deixar seus filmes. E do jeito que a tecnologia está evoluindo, vai ser possível conservar filmes por muitos milênios. Eu não tenho uma obra pra deixar. Talvez minhas fotos. Mas como eu não invisto nisso, elas não são eternas. Seria bom então viver para sempre no sentido egípcio. Se bem que viver pra sempre no coração de alguém é melhor do que reencarnar, né? Então eu preferia ser o besouro.
Ele olhava para ela cada vez mais bobo e fascinado.
- Posso ser embalsamado e sepultado numa pirâmide então?
- Credo? Que exagero! Pra que?
- Pra você ser o besouro...
- Será que o seu coração é do meu tamanho?
- Medidas exatas. Tenho certeza.
Lívia ficou sem graça como ainda não tinha ficado até agora. Olhou no relógio.
- Não. Me conta.
- No Egito antigo, eles acreditavam que o besouro era um Deus. O Deus da reencarnação. Da ressurreição. Isso porque quando os besouros nascem, a fêmea serve de alimento para os filhotes até que eles possam sair voando e andando. Por isso eles achavam que quando o besouro morre, ele se transforma em vários outros. Então, quando a pessoa morria, eles retiravam o coração e substituíam por um escaravelho dessa pedra, feito do tamanho do coração que foi retirado. Assim, a pessoa viveria para sempre ou reencarnaria logo. Mas o sentido mesmo, era que ela viveria para sempre.
- Que lindo isso.
- Não é?
- Você queria viver pra sempre?
Ela falava enquanto caminhavam a pé pela rua.
- Viver pra sempre é relativo. Você vai viver pra sempre, ou por muito tempo, porque vai deixar seus filmes. E do jeito que a tecnologia está evoluindo, vai ser possível conservar filmes por muitos milênios. Eu não tenho uma obra pra deixar. Talvez minhas fotos. Mas como eu não invisto nisso, elas não são eternas. Seria bom então viver para sempre no sentido egípcio. Se bem que viver pra sempre no coração de alguém é melhor do que reencarnar, né? Então eu preferia ser o besouro.
Ele olhava para ela cada vez mais bobo e fascinado.
- Posso ser embalsamado e sepultado numa pirâmide então?
- Credo? Que exagero! Pra que?
- Pra você ser o besouro...
- Será que o seu coração é do meu tamanho?
- Medidas exatas. Tenho certeza.
Lívia ficou sem graça como ainda não tinha ficado até agora. Olhou no relógio.
- Está na hora. Eu vou pro hotel.
- Já? Acabamos de nos conhecer.
- Ha! Estamos juntos há quase 12 horas. Você conseguiu o que disse que queria naquela sua cantada péssima! Sentou na minha mesa, tomou mais de um café, passou o dia grudado em mim. Seus sonhos já foram realizados, Sr. Ninguém. Agora é hora de ir.
- Droga. Eu levo você até lá então.
- Olha só! Sr. Ninguém se tornando alguém ao ser gentil. Escapou de novo de ser jogado no rio!
George parou na frente de Lívia e ficou olhando para ela com um meio sorriso paralisado, por eternos segundos que pareciam congelados.
- Hey...o que é esse olhar?
- Esse olhar (that look)?
Num meio abraço, ele começa a cantar rindo:
- The look of love is in your eyes...a look your smile can't disguise...
- Ai essa música é Linda. Mas ficou tão piegas no Brasil. Virou tema de novela. Isso destrói qualquer música...
- Então esquece que eu estou sendo piegas e vamos dançar.
- Aqui?
- Aqui. Eu canto, a gente dança. A noite ta linda. Vai. Para de falar. Me deixa ser piegas!
E cantou enquanto os dois dançavam no meio da avenida deserta.
- "The look of love/ is saying so much more than just words could ever say/And what my heart has heard/ well it takes my breath away/I can hardly wait to hold you/ feel my arms around you /How long I have waited/Waited just to love you/ now that I have found you/You've got the Look of love..."
Lívia começou a cantar junto animada e os dois andaram a caminho do hotel cantando e dançando freneticamente sob os olhares das poucas pessoas que passavam na rua.
- Olha que lindo...já tínhamos uma lenda, agora temos uma música. Nosso relacionamento está evoluindo.
- R-E-L-A-C-I-O-N-A-M-E-N-T-O?
- Shhh! Presta atenção na parte importante. Que falta de romantismo.
- Desculpa, fala.
- Já temos a nossa música... "the look of love"...
- Certo. NOSSA música.
- E já temos uma lenda. A do Deus Besouro que vai fazer você viver pra sempre no meu coração.
- Ó, que lindo!
- É lindo, sim!
- Claro que é lindo. Lindo é saber que o mega galã hollywoodiano é o menino mais romântico que surgiu no mundo desde Romeo em pessoa.
- Ok. Ta me jogando no rio? Ta rindo da minha cara?
- Não George. Eu estou brincando com você. E estou achando muito lindo mesmo você ser assim.
- Ah bom. Eu não ia ficar feliz.
- Então fica. Porque eu estou adorando você tão piegas.
- Lívia! Não estraga?
- Desculpa. Continua...
O hotel ficava no final da Calle Florida, perto da Plaza San Martin. Não era o lugar mais bonito de Buenos Aires. A entrada era por uma galeria que não inspirava confiança. Alguns metros para o seu interior tinha um elevador pequeno, velho, dourado, apertado e quase aterrorizante. Sob o olhar de um segurança mal encarado, na porta do elevardor, os dois se despediam.
- É aqui então?
- É.
- Tem certaza?
- Tenho. Lá em cima não é feio assim.
- Então...
- Então, George... foi ótimo.
- Foi. Foi um dia perfeito. Adorei conhecer você.
- É. Também.
- Um prazer mesmo, Sra. Ninguém.
- Todo meu, Sr. Invisível.
- Me dá um abraço.
- Claro.
Um abraço sem jeito. Meio sem querer largar. Meio largando pra não ficar chato. "Ai meu deus". Ele era muito alto para ela, seus ombros largos, seu peito confortável. Ela magra, miúda, sendo praticamente engolida pelos braços dele. Não queria sair dali nunca mais, mas achava que o dia já havia sido intenso o bastante para ser prolongado num abraço assim.
- Então ta. Até.
- Até.
- Então, George... foi ótimo.
- Foi. Foi um dia perfeito. Adorei conhecer você.
- É. Também.
- Um prazer mesmo, Sra. Ninguém.
- Todo meu, Sr. Invisível.
- Me dá um abraço.
- Claro.
Um abraço sem jeito. Meio sem querer largar. Meio largando pra não ficar chato. "Ai meu deus". Ele era muito alto para ela, seus ombros largos, seu peito confortável. Ela magra, miúda, sendo praticamente engolida pelos braços dele. Não queria sair dali nunca mais, mas achava que o dia já havia sido intenso o bastante para ser prolongado num abraço assim.
- Então ta. Até.
- Até.
Ela entra no elevador.
- Hey! Até como? Até quando? Caminito amanhã?
- Não. Amanhã eu vou embora.
- Você vai embora amanhã?
- Vou.
- Mas porque você não me disse?
- Ah... Eu não te conhecia ainda. Achei que não precisava. Não sei.
- Ah não! Você me jogou no rio!
- Não! É que primeiro eu achava que não precisava. Depois eu não sabia como. Desculpa! Juro que não te joguei no rio...
- Ah. Como assim? Você vai embora! Não é "até". Eu nem sei como falar com você.
- Mas a gente se fala, George.
- Como, Lívia?
- Sei lá. Pega o meu e-mail.
- E-mail?
- George. As pessoas se comunicam por e-mail. É um jeito.
- Tá bom. Me dá o seu e-mail.
- Decora?
- Tomara. Fala.
- Livianoone@hotmail.com
- Hey...esse é o seu e-mail? Como assim?
- Não é. Mas vai ser assim que eu chegar.
- A que horas você vai embora?
- As duas da tarde.
- Ai meu deus! Me dá outro abraço vai?
Mais um abraço. Agora sem querer mesmo largar. Mais sofrido. Mais doído. Os braços de George se tornaram o melhor lugar do mundo de repente. Era com se só agora ela percebesse que vai embora deixando alguma coisa que podia ser boa e importante. Naquele momento ele deixava de ser George Clooney para ser alguém que ela queria conhecer mais. Mesmo assim, o eterno "jeito Lívia de fugir" falava mais alto.
- Deixa eu subir?
- Não... Deixa EU subir.
- Então... Deixa?
- Não. Você fica aqui. Eu tenho que ir. A gente se fala.
- Por favor?
- Não George. Você fica.
- Lívia...eu não sei quando vou te ver de novo. Você vai pro Brasil. Eu vou pra América. Me deixa subir?
- George, a gente não vai se perder.
- Ta bom, Lívia. Você me jogou mesmo no rio. Boa viagem. Se cuida, ta?
- Não joguei não. Juro.
- Não joguei não. Juro.
- Eu não vou acreditar.
- Vai sim. Eu vou dar um jeito nisso. Se cuida também. Tchau.
Ela se aproximou e beijou o rosto dele.
- Tchau. Não esquece do e-mail.
- Não. Eu faço assim que chegar.
Lívia deixou George Clooney em pessoa plantado na porta de um hotel feio em Buenos Aires e entrou sozinha no elevador, rumo ao apartamento 1101, que tinha duas camas de solteiro, um frigobar e uma TV pequena.
- Não. Eu faço assim que chegar.
Lívia deixou George Clooney em pessoa plantado na porta de um hotel feio em Buenos Aires e entrou sozinha no elevador, rumo ao apartamento 1101, que tinha duas camas de solteiro, um frigobar e uma TV pequena.